domingo, 7 de janeiro de 2024

O casarão da poesia


 Janeiro é um mês que desafia minha vontade de viver. Chove muito, e embora estejamos no verão e faça calor, os dias são feiosos, nublados e úmidos. Temos que ficar a espera de estiagens inesperadas para passear com os cães, ficamos todos ansiosos e irritadiços. A limpeza da casa fica mais chatinha, pois os cães molham as patinhas e sujam tudo dentro de casa. Mas tudo passa, é só esperar e apreciar um trovão ecoando longe...Tenho pena mesmo é de quem não consegue acreditar no inacreditável. Há na internet neste momento um numero enorme de "divulgadores científicos" com sobra de capacidade de ironizar e prontos para destruir aquilo que não conseguem compreender. De fato eles misturam "não consigo compreender" com "não há ciência que explique isso". Como está difícil, moçada, até mesmo manter-se informado em meio a tanta soberba. E eles seguem disparando contra constelações familiares, movimentos terraplanistas e a existência de Deus. Erra quem é cristão e entra em um debate tentando apresentar evidências materiais para abalar a "fé na descrença" desses cientistas tão limitados de imaginação, estão dependentes de um milagre de sensibilização pelo Espírito Santo. Não há chance de haver poesia nesses contextos de empobrecimento do pensamento. A poesia exige que a pessoa trabalhe na contramão, que disponha-se a pegar atalhos, a começar frases com "e se...", a tentar perceber porque o outro precisa tanto das certezas para existir. Afinal, a poesia é um pensamento que visita todo o casarão, não apenas os cômodos em que a luz elétrica ilumina e "cega". E ainda faz isso com carinha de marota! Esses cientistas (ou melhor seria dizer pseudocientistas) pernetas das ideias não dão conta disso. Acredita que enquanto eu escrevia esse paragrafozinho besta a chuva parou? Deixa eu levar a cachorrada para pegar um ar! 

PS. Na foto temos o ED, vou falar dele nos próximos dias.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Coitados dos meus filhos

Que saudade tenho da minha escrita de antes de tudo: antes da universidade, antes de saber tanto de tão pouco, antes de me criticarem tanto, antes de ler tantos que parecem saber tanto...Só escrever, pegar nos pensamentos e colar neles palavras. Aquelas deliciosas redações da escola, sem "politicamente correto" e sem doutrinações. Escreva sobre...."As férias de julho", "Pirata, meu cão de estimação", "Minha pessoa favorita". Talvez eu esteja APENAS  a ficar mesmo velha, velha daquele tipo que acha que o "antigamente" era sempre melhor. Mas se eu fosse adolescente dos dias de hoje, não apreciaria JAMAIS escrever sobre "O papel da mulher negra na reconfiguração da sociedade patriarcal". Credo. Coitados dos meus filhos. Será que essa porcaria vai se estender e alcançar meus netos? E todos consideram-se aptos a escrever, não apenas do ponto de vista da mecânica da escrita, mas da substância também. Qualquer "eu acho" pode rechear o miolo de um livro e entreter milhões de miolos moles. Biografias de cantoras adolescentes e youtubers, manuais de fazer quase tudo "melhor" que todos os outros mortais, livros infantis sendo escritos como quem cola adesivos em um caderno. Devo estar mesmo tombando para o grupo das velhotas ranzinzas! Quadrinho da Alice a contar os dias para celebrar seu aniversário!

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Que pensamentos circulam em sua mente?


Nossa "mente" é como um grande praça por onde transitam os pensamentos. Felizmente, ao contrário das praças que conhecemos que são abertas para quem desejar por ali passar, podemos controlar quem transita por nossa mente. No dia a dia, contudo, não fazemos essa gestão de acesso, e sofremos com vícios, ansiedade e dificuldade de fazer conexões. Mentes perturbadas têm a praça superlotada de pensamentos, que ficam a zanzar de um lado para o outro, a trombar entre si e com nossa consciência, que fica dispersa e confusa. Foi-nos ensinado que termos muitos pensamentos em simultâneo é sinal de produtividade e eficiência. Mas isso não é verdade. Praça cheia leva-nos a exaustão, falta de concentração, baixa criatividade e sentimento de impotência. As redes sociais têm colaborado para esse fenômeno das praças "lotadas", pois entre uma tela e outra, vamos permitindo que imagens e ideias entrem em nossas mentes e ocupem lugar nas nossas praças. Como ter uma ideia nova em uma praça repleta de pensamentos semelhantes (obtidos em uma única fonte)? Como abrir espaço na praça para que os pensamentos nascidos em uma leitura possam circular ali? Práticas como a meditação e até mesmo as orações são uma maneira de esvaziarmos nossa praça, deixando que transitem apenas os pensamentos "autorizados" para aquele momento. Na meditação, por exemplo, só são permitidos os pensamentos relacionados a nossa respiração, as sensações do corpo, ao relaxamento...Muitos pensamentos "penetras" furam nosso bloqueio e tentam atravessar nossa praça correndo: "O que será que vai ter de almoço?", "Não posso esquecer de ligar para a Ritinha", "Troquei a água dos cães?". Cada pensamento intruso é então convidado a deixar a praça. 

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

E a inteligência artificial vem aí!



Minha mãe viu uma entrevista com Elon Musk e ficou estarrecida com a declaração dele de que no futuro não haverá emprego e todos seremos obrigados a receber um salário fixo do governo. Não haverá mais emprego, de acordo com o cinquentão endinheirado, pois todo tipo de trabalho será executado por máquinas. As pessoas ficam entre assustadas (como é o caso da minha mãe) e encantadas com essa visão futurista. Eu duvido que as máquinas nos substituam em tudo, a não ser que realmente a espécie humana fique totalmente imbecil e não saiba reconhecer a essência de uma gargalhada ou a profundidade da acolhida de um abraço. Algumas funções podem sem problema ser transferidas para as senhoras e senhores cheios de parafusos, porcas e placas informáticas, especialmente aquelas que colocam a vida humana em risco, tipo mergulhos em grandes profundidades. Eu até vejo com simpatia uma máquina a operar, com o prestígio que os médicos estão na atualidade, muita gente vai mesmo achar melhor ser cortado pela precisão do bisturi de um robô. Mas há algo do "humano" que uma máquina jamais conseguirá incluir na sua maneira de fazer. Veja bem, um bolo de fubá com goiabada pode ser feito apenas seguindo uma receita. Mas todo mundo sabe que a mesma receita fica diferente dependendo da cozinheira que o faz. O que elas fazem de diferente? Elas pensam enquanto cozinham, lembram de pessoas que amam, tentam superar raivas e rancores, cantam...E isso, assim, aleatório e emocional, vindo do coração de cada cozinheira, influencia o resultado final do bolo que servirão. Isso e muitas outras especialidades humanas, como afagar um gato, dar gargalhada em conjunto, passear com um cachorro, fazer um carinho gostoso nas costas da vó da gente. Alguém poderá dizer, calma lá, isso não é trabalho! Pois não é. Mas quem sabe com as máquinas a desempenharem trabalhos estúpidos e arriscados não poderemos repensar o que pode ser considerado trabalho, o valor das coisas (como um bolo de fubá!). Eu faria carinho na minha avó (que saudade dela gente!) de graça!! Novos cenários exigem novas formas de pensar. O que só um ser humano é capaz de fazer?? 

terça-feira, 23 de maio de 2023

Deixa eu apresentar para vocês








 Depois de uns meses (ou seriam anos?) sumida daqui, retorno com boas novas. Quatro boas novas. Quatro "alegrias". Antes que me chamem de doida, adianto que duas alegrias moram na casa da minha mãe (o primeiro, com o nariz coberto de terra e a amarela, na última foto). As alegrias que moram em minha casa são os dois peludos na foto com a Alice. Depois farei uma postagem individual, eles merecem. Por agora, os novos integrantes da família são (em ordem de apresentação nas fotos): Tunico, Helga, Edinho Pastrani e Lola. Vida longa às alegrias! 

sábado, 16 de abril de 2022

A cachorra amarela do meu seu sonho afinal era cinza


Diana
Volta aqui, menina
Deve ter sido um engano
o combinado era outro
ainda preciso de você....

Não sei se dou conta, meu Deus, de tantas despedidas
O coração já não tem massa para tantos buracos
é uma casa sem risadas.....

 

Quando o adeus é um punhal...




 

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

E se um anjo lhe concedesse a alegria de GARANTIR que seus filhos aprendessem três coisas...

 

O que você gostaria que seus filhos aprendessem? Que aprendizagens são imprescindíveis? Eu pediria ao anjo que eles aprendessem a discrição, a amar com generosidade e a saber ouvir. Coisas simples, mas de grande impacto em nossas vidas quando não fazemos direito. Eu mesmo não as faço, mas gostaria. Por isso a preocupação....

quarta-feira, 1 de julho de 2020

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domingo, 24 de maio de 2020

Ensinar a dúvida


Chove muito. E faz frio. Estamos em maio. Cadê a beleza do outono, cadê o céu lindamente azul...? A primeira coisa que li ao acordar foi sobre "a urgência de darem esperança para o povo brasileiro". Em inglês. Nos outros países consomem o lixo de notícias que enviam e levam do nosso país, sem nunca duvidar do que lhes chega aos ouvidos. Sigo ensinando aos meus filhos a dúvida como forma de checar os interesses, não a verdade, mas os interesses de tooodos os envolvidos. Muitas "lives" tentam antecipar como será a vida pós pandemia. Eu tento antecipar saberes necessários para a vida dos meus filhos no futuro que viverão, tipo duvidar. 

domingo, 3 de maio de 2020

Sobre o amor, mais uma vez (e não será a última)

O amor já era tema frequente neste espaço, mesmo antes dos meus filhos chegarem. Para quem não sabe, meus filhos chegaram todos ao mesmo tempo. Chegamos em casa depois de 9 horas de viagem, sentados em suas cadeirinhas no banco de trás do carro. Eles abriram os presentes de Natal, deixados pelo Papai Noel e brincaram. Éramos cinco estranhos dentro do carro. O que eles estavam a pensar do que estava a acontecer, em suas cabecinhas de criança, não saberemos nunca. A pequena Alice aparentemente adaptou-se melhor e logo me entendeu como sua mãe. Os meninos, um pouco maiores, esforçavam-se por entender as regras da nova vida e tentar encontrar nos dois adultos que agora eram seus responsáveis algo que pudessem amar. Por que o amor, minha gente, não aparece assim como mágica, simplesmente porque alguém resolve adotar três crianças. Muitos adotantes qualificam o amor que sentem pelos filhos adotivos como "amor a primeira vista". Há muito romantismo e clichês quando o assunto é adoção, e como meu marido e eu não nos ajustamos a essa lógica que pasteuriza as relações, nossa história não é bem vista em grupos apoio a adoção. Por que assumimos que o amor pelos filhos que chegam pra gente pela adoção é uma construção. Assumimos medos em geral desconsiderados na narrativa dos outros pais adotantes. Como mãe, senti medo de não amar, ou amar pouco, ou amar errado (amar por pena). E será que eles(meus filhos) me amarão por gratidão? E minha família, amará meus filhos? Meus pais amarão meus filhos na mesma medida que amam os netos "de sangue"? Quando um bebê nasce em uma família, as pessoas festejam, visitam, presenteiam. Tenho sobrinhos, sei do amor que senti quando os vi pela primeira vez, conheço a sensação, da vontade louca de pegar no colo os pequeninos, de estar presente na vidinha deles.  E se minhas irmãs não demonstrassem o mesmo por meus filhos? Não ter meu DNA significa que não terão meu nariz, a cor da minha pele e logo não teremos aqueles comentários do tipo "ai, tem o seu queixo!" que tanto fortalece os laços entre pessoas da mesma família. Ter semelhanças físicas é um passaporte para pertencer ao grupo. E se minhas irmãs acolhessem meus filhos como quem acolhe os filhos de um amigo, por simpatia e não amor? Meu pai, quando as crianças chegaram, esteve engajado em dar-lhes subsistência. Ele achava que eu e meu marido tínhamos feito uma boa ação em adotar as crianças (o que é muito comum na sociedade). Meu pai foi o avô mais fantástico que eu um dia poderia imaginar. Ele permitiu-se o enamoramento. Na convivência deles eu vi meu pai superar os clichês e apaixonar-se por cada um deles. Porque a família também precisa estar disponível para o amor, como meu pai esteve, e talvez não seja justo pedir que também estejam nesse espírito de amar. Em uma reunião de apoio a adotantes, uma senhora contou que simplesmente cortou da convivência familiares que não amaram o filho adotado. Não sei se é justo, mas por vezes é o que se pode fazer para impedir que nossos filhos sofram rejeições e desamor. Em tempo, a imagem é minha filha usando um coque "Banana". Ela não tem meu nariz, mas vai pouco a pouco apreciando meu espírito. 

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Arroz doce

Pai, hoje é sexta-feira da paixão. Por aqui a coisa está louca! Imagine, estamos todos de quarentena. Ninguém pode sair de casa, você iria detestar. Estou fazendo arroz doce, em sua homenagem. Não é tão bom quanto o seu. O Alexandre continua apaixonado por chocolate branco, como era o avô. Pediu um ovo branco de Páscoa. Você ia adorar uma novidade, agora há chocolate branco em pó para misturar ao leite! Sentimos que você não tenha experimentado. Sentimos muito a sua falta. As crianças estão enormes! O Alexandre entrou no ensino médio e está fazendo computação gráfica. Tem bigode e o coração habitado por uma mocinha. O Genaro está tomando um remédio para o coração, outro para o pulmão e um terceiro para o quadril. Nosso velhinho está muito amoroso. Tem hora que ele me olha e tenho certeza que se pergunta "Por que ele tirou a barba?"! Vai ser muito difícil para as crianças (e para mim) quando ele partir. É muito amor. As despedidas são sempre mutilantes, mas são uma confirmação de que só o amor faz sentido nesse mundo. Te amo, Raimundinho!

terça-feira, 17 de março de 2020

Tarde de exames...

A cada três meses faço uma bateria de exames para a oncologista e o mastologista. Ontem estive na clínica para dois exames simples (quando não levo "agulhada" considero simples). Foi tudo insuportável. Como a ameaça do coronavírus imaginei que a clínica estaria vazia, só mesmo quem não tem escolha (como eu) iria em um lugar como esse nesse momento. Estava lotado, inclusive com muitas pessoas de idade. Um paciente, 5 acompanhantes. Ir a médico é tipo passeio em família. Aliás, consultório médico e afins é point de passeio. As pessoas se arrumam, se perfumam, como se fossem ao shopping fazer compras. Na recepção, sentei-me ao lado de um senhor por volta dos 65 anos. Acreditam que o cara estava vendo vídeo pornográfico no facebook? Fez uma pausa, falou com alguém sobre um depósito no banco, voltou para o vídeo asqueroso. Veja bem, não condeno pornografia, mas em público, com crianças por perto? Fui chamada, tive que esperar em uma segunda sala de espera. Estive nela com meu pai, quando descobrimos o câncer dele. As lembranças me deixaram pesada...Ao meu lado um menino via filme no celular (ufa! não era pornográfico!) acompanhado pelo pai, também no celular. Os médicos passavam para lá e para cá, com arrogância. Eles fazem parecer que a vida é só isso, descobrir um nicho em que você consiga parecer superior aos outros por algum motivo e ficar ali gozando dessa superioridade. As moças do atendimento falam com os "drs" como se eles fossem celebridades, e os drs e dras adoram a paparicação. Passa uma moça da limpeza com olhar mais sabido que o de todo mundo ali....O dr do ultrassom podia ser médico em campo de concentração. Tratou-me como um pedaço e carne. O "técnico" do raiox pareceu mais humano.Fiquei bem deprimida....

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Ser sendo quem sou


O dia aqui está horroroso! É verão, mas estou de casaco. Chove fininho. Com as gotinhas que caem sobre a superfície da piscina parece haver uma grande taça de champagne a efervescer no meu quintal. Mas não é bonito. Os cães dormem a minha volta e eu aproveito o silêncio para escrever. E estudar! Resolvi investir em uma formação para ser instrutora de yoga para crianças. Na imagem, minha filha Alice medita em uma aula (que não foi dada por mim). Ao fundo vê-se também meu pequeno Lauro. Fui me apaixonando pela ideia. As vezes acho que sou turbulenta demais para o oficio. Vou tentar ser sendo quem sou. Tudo para não entregar-me aos espinhos da contemporaneidade. 

sábado, 18 de janeiro de 2020

Sequelas do câncer, para quem quer ouvir


Terminei as sessões de quimioterapia em agosto de 2018, mas minhas unhas ainda não se recuperaram. Para quem não sabe, as unhas de uma pessoa em tratamento quimioterápico caem. Não acontece com todas as pessoas e quando acontece podem não cair todas as unhas. Minhas unhas dos dedões do pé ainda estão a se recuperar, há uma porção solta em cada dedo. Para que serve esta informação para quem lê meu blog? Nada, a não saber mais sobre tratamento de câncer e talvez ter mais compaixão pelos doentes. Para mim, o pós tratamento tem sido difícil. É uma fase em que você já tem cabelo, sobrancelha, cílios....e as pessoas acham que você está zero bala! As unhas feias parecem que eu sou descuidada, que tive uma micose não um câncer. É terrível, acabou a suposta  bondade com que me tratavam porque estava com o "pé na cova". Sem falar na expectativa que as pessoas têm de que eu tenha melhorado como pessoa com a doença. Eu já ouvi de uma pessoa muito próxima com muita indignação (da parte dela) que eu não consegui melhorar nada com a doença! Mas essa pessoa não me pergunta das minhas sequelas. E fiquem sabendo, são muitas. Recentemente o cantor Beto Barbosa interrompeu um show sentindo-se mal. Ele fez um tratamento de câncer severo. A produção dele diz que o mal estar que o impediu de terminar o show nada tem a ver com o câncer já curado. Eu fiquei pensando que provavelmente as sequelas do câncer o tenham fragilizado. Eu não consigo falar por mais de duas horas, minha voz finda. Como professora, imagine quanto isso é ruim! Ele conseguiu 30 minutas, cantar e dançar. Eu não consigo cantar os coros da igreja! 

sábado, 28 de dezembro de 2019

Quantos anos de vida ainda tenho? Quantos anos de vida ainda desejo?





 E mais um ano termina. Todo o mundo a fazer balanço de como foi o ano que fica para trás. Uma chatice. Em geral as pessoas relatam alguns contratempos mas sempre sempre sempre são um espetáculo de bravura. Ou como gostam de adjetivar: são umas guerreiras. Duas palavras que detesto: luta e guerreira. A primeira me aborrece especialmente quando aparece no âmbito da educação. Tem texto de educador que a palavra luta aparece mais que conhecimento. E a palavra guerreira ficou para mim marcada por conta do câncer. A verdade é que passei pelo primeiro ano pós tratamento, visitas ao médico de 3 em 3 meses. No segundo ano, este que se inicia (2020), manteremos a regularidade desta peregrinação. Só no terceiro ano as visitas aos médicos serão a cada seis meses. A cada consulta periódica, quando os  exames estão todos bons, renasço. Este ano tivemos um susto, um susto enorme. Havia a suspeita de um câncer novo, desta vez incurável. Fiquei arrasada. Foram dias de pavor até que o resultado dos exames saíssem. Eu amo viver! Tem sido cada vez mais solitário, mas eu amo cada dia, cada minuto, cada refeição, cada travesseiro macio na cama...Graças a Deus deu tudo negativo. Mas o medo agora, minha gente, tá sempre comigo. Medo de ir embora sem conhecer meus netos, sem ver o que cada filho meu vai fazer da vida, sem ir ao Marrocos com o Pedro. Mas curiosamente o tal câncer fatal que afinal eu não tinha fez-me pensar muito (mais do que da outra vez quando afinal eu tinha câncer!): eu estava sendo negligente com a vida e procrastinando tudo que deveria fazer para ser feliz. Tomei juízo. Mandei a morte catar coquinhos, ela que estava alojada na minha casa. Parei de pensar na morte e passei a cuidar da vida. Se eu não fizer isso, ninguém faz por mim. O medo não foi embora, continua acampado na minha casa. Acho que ficará para sempre...mas os pensamentos permanentes sobre a morte deixaram de existir. Foi demais, perder meu pai, o câncer, as despedidas dos cães, da Terezinha....Mas agora tenho  a saudade e só. Acabei fazendo um balanço de 2019 também, desculpem! Na realidade, não importa! As fotos são de um entardecer aqui em Uberaba....Fez-me lembrar porque mesmo escolhi morar nesta cidade....Em outro post respondo a pergunta do título! 

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

MInha loira


Primeiro foi o Onofre, e ontem chegou a vez da nossa Loretinha dizer adeus. Estou arrasada, dei a autorização para a eutanásia. Nunca pensei que ia viver uma cena dessas em minha vida. O veterinário disse que na idade dela (17 anos) com o estado físico em que se encontrava não havia nada a fazer. Era ruim e só ia piorar. Fiquei com a sensação que eu a traí. Os dias tem sido terríveis. Cada vez menos fontes de amor ao meu redor, cada vez mais fontes de feiura. Sei que feiura não é antônimo de amor, mas é minha necessidade de beleza (especialmente aquela vivenciada no amor) que me faz colocar os dois na mesma ideia. Que cadela maravilhosa ela foi! O dia que a resgatamos  foi um dos dias mais felizes da minha vida! Presentão de Deus! Uma honra ter sido a segunda-dona da Loreta! Ela fez minha vida muito melhor o tempo em que esteve conosco! Mais nada a dizer.


segunda-feira, 13 de maio de 2019

Você prefere ser rápido mas nadar distâncias curtas ou ser vagaroso e ir bem longe?






Sou água. Para quem não sabe tive câncer no ano passado, terminei o tratamento em dezembro. Agora de três em três meses faço exames para rastrear células do mal que porventura  regressem. Acho que não volta, foi o abismo da morte do meu pai que me fez este tumor no peito. Agora é tentar colocar meu corpo em ordem. Engordei pacas e desenvolvi neuropatia periférica. Tô nadando, tentando, cada dia um bocadinho, quase nada. O crawl tá muito comprometido, pois o braço esquerdo com a retirada de parte da mama, uns linfonodos e uns nervos cortados não está em sua plenitude de braço. Também não posso exigir dele muito, pois posso deixa-lo com dificuldade de eliminar líquidos e desenvolver um edema. Tudo na medida. Invisto no peito (hahahaha, pois o câncer foi de mama!), que nado deliciosamente. Saio da piscina me sentido SAUDÁVEL. Nadar é mesmo uma graça em minha vida! 
Ontem estivemos todos na água. As crianças estão aprendendo os nados. Elas querem ser rápidas! E eu disse a elas: Ah! A mãe prefere conseguir nadar mais tempo e ir mais longe do que ser rápida e nadar só um tiquinho! Não sei se entenderam, mas fiquei pensando que sou mesmo isso, sempre fui. Na piscina, prezo o alongar, o ser suave, e nadar vagarosamente por bastante tempo. Vamos ver que escolhas meu filhos farão, a mim resta ensinar. 
As imagens mostram um pouco da relação da nossa família com a água! Piscinas de plástico (grandes e pequenas), piscina grande, piscina pequena...Nós amamos água! (reparem a piscina passando por cima do muro! Excelente serviço da IGUI Uberaba!) 

sábado, 1 de dezembro de 2018

Atestado de Alegria



Mundo doido, você está autorizado a ser triste e doente, mas não pode usar a alegria como justificativa para viver a vida para além das obrigações. Foi assim, meu filho fez aniversário e aqui em casa temos um ritual festivo que inclui faltar as aulas, almoçar porcaria, ir ao cinema! Mas coincidiu o  dia do aniversário com trabalhos e provas valendo nota na escola. Ele falou com a professora e ela disse a ele que só poderia repetir o trabalho se ele levasse um atestado médico. Não tínhamos um atestado médico porque felizmente ele não tinha nenhum problema de saúde! Pode faltar por doença, mas não pode faltar por alegria. Fizemos então um atestado, esse aí da imagem, e mandamos para escola, explicando nosso ponto de vista. A professora dele (que é a melhor professora que já vi na escola para essa faixa etária até hoje!) adorou. Mas a regra foi seguida. Ele acabou fazendo novamente o trabalho, pois outras crianças também faltaram, não sei se tinham ou não atestado de saúde. Mas a questão fica: o que dita o ritmo da vida em nossos dias é o infortúnio? Quando teremos uma rotina em que a alegria também pode ter voz?

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Caminhos....




Diagnóstico em fevereiro. Em novembro, radioterapia. Muita coisa pelo meio! Estou reinaugurando os rituais da vida. Afinal, não morri e vi o filme Animais Fantásticos 2! Afinal, não morri e comi o primeiro panetone da temporada! Afinal, a vida é boa demais!

terça-feira, 3 de abril de 2018

A gente cessa, vamos fazer poesia moçada!


"Pensar que a gente cessa é íngreme. Minha alegria ficou sem voz. " Manoel de Barros
Acho que a morte alugou um quarto na minha casa, dorme encolhida numa bicama, tem dois anos. São doenças a mais, médicos a mais, veias difíceis a mais, despedidas a mais. Hoje tive quimio. Por isso são 4 da manhã e eu estou ligada na tomada (da quimio). A medicina diz que a adrenalina que solto no processo (é medo mesmo, gente) depois me deixa assim. Alguém menos esclarecido ainda me chama de louca. A produção tá ótima (confere aí, 3 posts no Patel!). Reescrevi um livrinho! Mas amanhã o corpo fica uma miséria. E tenho que acordar daqui um pouco, despachar a moçadinha para a escola. 
Tô careca, mas não sofri tipo aquela atriz que cortou os cabelos na novela aos prantos. A Alice ajudou o pai a fazer o serviço. 
Não quero perder a alegria na minha voz! 


Sobre avós

I
Minha avó Lina não dizia a palavra "Câncer", dizia em tom quase inaudível "doença ruim". Tipo o Valdemort, saca?

II
Descobri o que se passa com meus filhos desde que meu pai se foi...Foi o Manoel de Barros que esclareceu, destamparam a solidão:


Quando meu Vô morreu caiu em silêncio Concreto sobre nós.
Era uma barra de silêncio! Eu perguntei então ao meu pai:
Pai, quando o Vô morreu a solidão ficou destampada?
Solidão destampada?  Como um pedaço de mosca no chão.
Não é uma solidão destampada?

III
Minha mãe, avó dos meus filhos também fala baixo uma palavra nas conversas, mas não renomeia. Ela diz: "sexo", bem bem baixinho, de maneira que fica enorme a nossa atenção! 





quarta-feira, 28 de março de 2018

Doença grave e ser estrangeiro.

Ter uma doença grave, que pode ter levar a morte é uma espécie de viagem a um país estrangeiro. Seu corpo não é mais seu conhecido, você não confia nele. O dia inteiro você passa a aprender as novidades da rotina do doença. É estar sempre no imprevisível: os cabelos caem?, o enjoos virão?, vai doer achar essa veia?, meu intestino vai funcionar? O dia inteiro a tentar entender um mapa de mim mesma, mas todo bagunçado por novos atalhos e caminhos. E quando chega a noite e todos podem descansar, cada um no seu corpo são, eu vou me deitar, mas levo o estrangeiro comigo e estou presa dentro dele. Cansaço....

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Onofre, II


Onofre..


Foram dezeseis anos de amor, do mais puro amor. Já não tô dando conta de tantas despedidas. O dia em que encontrei este peludo e sua irmã e os levei para casa no colo, aquilo foi felicidade. Ele me olhou nos olhos com uma integridade única. Cada um que vai, leva partes de mim...Meu pai no céu deve estar satisfeitão, dando longas caminhadas com o Nonô, como tinha sido impedido de fazer aqui antes de partir.

sábado, 9 de dezembro de 2017

O Natal e o amor

E não é que o Natal chegou? Faltam alguns dias, mas aqui em casa tudo dança ao redor do acontecimento Natal. Perseguir o amor, é a única receita ainda válida...

sábado, 29 de julho de 2017

Catrina...


segunda-feira, 17 de julho de 2017

Envelhecer é perder quem tem por nós compaixão e nos dá abraços como se tivéssemos 5 anos.

Pois os dias seguem. Difícil manter a alegria. Ainda bem que existem as crianças e suas demandas de felicidade e logística diária para me ocupar e me lembrar que sou responsável pelos pequeninos. Nada como uma lista de Natal sendo produzida em julho para tirar a gente da aspereza da lacuna deixada pela partida do meu pai. No trabalho, no supermercado, nas escolas...lido com adultos que não estão nem aí pelo meu bem estar. Meu pai se preocupava todos os dias com a minha saúde e minha felicidade. Deve ser muito duro uma criança sem pai, sem mãe, imaginem, sem alguém que sofra na carne os sofreres deles/nossos. Os adultos que me cercam e não me amam esperam que eu crie oportunidades de trabalho e de ganhar dinheiro para eles, que eu arrisque meu pescoço com a coragem que herdei dos meus pais para dizer as verdades a quem precisar ouvir, que eu seja dócil e obediente diante da mediocridade e da maldade que produzem. Dão nomes ao ser que sou e que me agiganta, julgam-me raivosa quando sou intensa e frontal. Não presto para eles, presto para lhe servir apenas. Foram educados por baratas gordurentas ou pais cegos de amor (aposto na barata..)! Não aprenderam a coragem, muito menos a bondade. Mas fingem ser bons, ajudam-se umas as outras as baratas gordurentas, com elogios patéticos e convites viciados. E eu vou perdendo aqueles que me amam e que por mim tem compaixão. Eu achava que envelhecer tinha a ver com rugas e preconceito que as pessoas dirigem a quem tem mais de quarenta anos. É bem pior. Envelhecer é perder quem tem por nós compaixão e nos dá abraços como se tivéssemos 5 anos. 
A Didi me ama. 

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Sem graça

Deus, com todo o respeito, houve um equívoco em levar meu pai. Não era a hora dele ainda não. Não dá para tirar a vida de alguém com tanta vida nos olhos, tantos planos e coisas por fazer. Confere aí e devolve meu pai, que aqui sem ele é muito sem graça. 

segunda-feira, 26 de junho de 2017

26 de junho

Hoje meu avô Clóvis faria 100 anos.
Eu ainda tenho o impulso de telefonar para o meu pai, uma semana sem o baixinho.
Gente, alguém viu minha alegria por aí?

sábado, 24 de junho de 2017

Dói muito e não tem remédio para passar

Eu não sabia que podia existir uma tristeza que a gente sabe que nunca vai passar. Perdi meu pai na sexta-feira passada. Essa tristeza nunca vai sair de mim, vai ficar ali a espera de um deflagrador, que pode ser um pudim, um arroz doce, um jogo do São Paulo. O homem que me ensinou a coragem, sendo corajoso, me ensinou a honestidade, sendo honesto dos outros debocharem dele, me ensinou a ternura, preocupado comigo como se eu tivesse 5 anos de idade. Parece que me falta uma perna, um braço,falta um pedaço grande de mim. A Alice disse que não gostou dessa ideia do vovô morar no céu. Eu também não, Alice, queria o vovô aqui, fazendo feijoada e criticando minha comida. Deve ser isso o envelhecer, a gente começar a a achar que aqui embaixo já não é tão divertido.

domingo, 7 de maio de 2017

quinta-feira, 9 de março de 2017

Mais uma vez Regaleira

 2017

A Quinta da Regaleira, em Sintra, vai se oferecendo como cenário para minha história. E eu sigo escrevendo entre pedras, musgos e promessas poéticas...Como eu aqui  disse, eu ainda faria muitas visitas a Regaleira...

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Afinal, a boa notícia sobre a saúde do meu pai foi uma leitura equivocada e precipitada do exame. O médico fez a leitura certa  e deu-nos a má notícia, um choque. Continua a chover. Eu tentando ser positiva, mas é uma luta. Abato-me facilmente, odeio odeio odeio não ser melhor nisso. Um solzinho ajuda...

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

O que mudarei em 2017?




E não está sol! Havia esquecido como dezembro é chuvoso. Dezembro em minha própria casa, raro...Por aqui contam-se os dias para o Natal. As crianças seguem o advento comendo chocolates e comemorando a passagem dos dias. É uma farra! Eu oscilo entre fazer o balanço de 2016 e as muitas tarefas. Agora são dois cães para passear, Diana e Genaro (do meu pai, que está conosco provisoriamente). Parece um movimento natural do corpo avaliar o ano em bloco, o meu pensamento caminha nessa direção sem que eu consiga impedir. E o que nos espera em 2017? Curiosamente, meu pensamento tá mais no que ocorreu do que no que está por vir. Mais que projetos, quando penso em coisas que desejo para o novo ano, penso em tardes felizes. É isso, para 2017 quero mais tardes felizes e manhãs sossegadas. Estar mais com quem verdadeiramente importa. Tenho pessoas queridas que moram bem perto da minha casa e que vi durante o ano...uma vez!! Algo vai mal quando a gente vê e está mais com quem nos repugna do que quem nos anima! Em 2015 essa foi uma constatação, adiava atender o telefone quando eram pessoas amigas e amadas pois precisava falar com pessoas do trabalho (que sequer me faziam bem!)!. Isso mudei. O que mudarei em 2017? Quero uma vida mais slow...Isso quero...Postar mais no meu bloguinho....Passear sem pressa os cães...

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Postagem à Adília Lopes


Aprender a nadar no seco. Nada segura quem tem imaginação, certo? Certo! Sempre há um plano B, um plano C. Espero que amanhã faça sol. Faltam tão poucos dias para o ano acabar, ufa! Hoje tivemos uma excelente notícia sobre a saúde do meu pai. Esperamos que em janeiro venha uma segunda notícia tão boa quanto a de hoje. A vida segue. Minha bateria acabou e não pretendo "por pra carregar". Vou me deixar descarregada. Este foi um ano memorável, em todos os sentidos, para as coisas boas e coisas más. Fiz uma angioplastia!  Ganhei dinheiro. Perdi amigos, que não eram amigos mas achei que fossem. Inimizades se fortaleceram, estes fizeram-se de amigos mas eu sempre soube que não o eram. Tempos estranhos. Meus filhos crescem. Lindos. Queria ensinar coragem e humor. Eles não sabem rir de si mesmos, ainda. Aborrecem-se e querem bater nos outros que riem. Eu não sou lá uma pessoa risonha, mas tenho humor. Toda vez na vida que fiquei sem humor (como agora estou sem bateria) era porque já não existia vida para ser salva ali. Morreu! Morreu! Morreu a vontade de ficar...Agora quando os níveis de humor caem muito, entendo que a vida tá pedindo respiração boca-a-boca. Será que alguém se afoga aprendendo a nadar no seco? 

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Pra você guardei o amor que aprendi vendo os meus pais....

Oi, Pastel! 
Tenho saudades.....
Por aqui a vida é uma descida vertiginosa na neve, em meio a muitas gargalhadas! 
Mas o mais importante é que meus filhos vivam em um cenário de amor, afinal, como nas palavras do poeta Nando Reis, eles levam o amor que aprendem ao ver os pais....


"Pra você guardei o amor
Que aprendi vendo os meus pais
O amor que tive e recebi
E hoje posso dar livre e feliz
Céu cheiro e ar na cor que arco-íris
Risca ao levitar"


segunda-feira, 11 de julho de 2016