terça-feira, 3 de abril de 2018

A gente cessa, vamos fazer poesia moçada!


"Pensar que a gente cessa é íngreme. Minha alegria ficou sem voz. " Manoel de Barros
Acho que a morte alugou um quarto na minha casa, dorme encolhida numa bicama, tem dois anos. São doenças a mais, médicos a mais, veias difíceis a mais, despedidas a mais. Hoje tive quimio. Por isso são 4 da manhã e eu estou ligada na tomada (da quimio). A medicina diz que a adrenalina que solto no processo (é medo mesmo, gente) depois me deixa assim. Alguém menos esclarecido ainda me chama de louca. A produção tá ótima (confere aí, 3 posts no Patel!). Reescrevi um livrinho! Mas amanhã o corpo fica uma miséria. E tenho que acordar daqui um pouco, despachar a moçadinha para a escola. 
Tô careca, mas não sofri tipo aquela atriz que cortou os cabelos na novela aos prantos. A Alice ajudou o pai a fazer o serviço. 
Não quero perder a alegria na minha voz! 


Sobre avós

I
Minha avó Lina não dizia a palavra "Câncer", dizia em tom quase inaudível "doença ruim". Tipo o Valdemort, saca?

II
Descobri o que se passa com meus filhos desde que meu pai se foi...Foi o Manoel de Barros que esclareceu, destamparam a solidão:


Quando meu Vô morreu caiu em silêncio Concreto sobre nós.
Era uma barra de silêncio! Eu perguntei então ao meu pai:
Pai, quando o Vô morreu a solidão ficou destampada?
Solidão destampada?  Como um pedaço de mosca no chão.
Não é uma solidão destampada?

III
Minha mãe, avó dos meus filhos também fala baixo uma palavra nas conversas, mas não renomeia. Ela diz: "sexo", bem bem baixinho, de maneira que fica enorme a nossa atenção!