domingo, 24 de maio de 2020

Ensinar a dúvida


Chove muito. E faz frio. Estamos em maio. Cadê a beleza do outono, cadê o céu lindamente azul...? A primeira coisa que li ao acordar foi sobre "a urgência de darem esperança para o povo brasileiro". Em inglês. Nos outros países consomem o lixo de notícias que enviam e levam do nosso país, sem nunca duvidar do que lhes chega aos ouvidos. Sigo ensinando aos meus filhos a dúvida como forma de checar os interesses, não a verdade, mas os interesses de tooodos os envolvidos. Muitas "lives" tentam antecipar como será a vida pós pandemia. Eu tento antecipar saberes necessários para a vida dos meus filhos no futuro que viverão, tipo duvidar. 

domingo, 3 de maio de 2020

Sobre o amor, mais uma vez (e não será a última)

O amor já era tema frequente neste espaço, mesmo antes dos meus filhos chegarem. Para quem não sabe, meus filhos chegaram todos ao mesmo tempo. Chegamos em casa depois de 9 horas de viagem, sentados em suas cadeirinhas no banco de trás do carro. Eles abriram os presentes de Natal, deixados pelo Papai Noel e brincaram. Éramos cinco estranhos dentro do carro. O que eles estavam a pensar do que estava a acontecer, em suas cabecinhas de criança, não saberemos nunca. A pequena Alice aparentemente adaptou-se melhor e logo me entendeu como sua mãe. Os meninos, um pouco maiores, esforçavam-se por entender as regras da nova vida e tentar encontrar nos dois adultos que agora eram seus responsáveis algo que pudessem amar. Por que o amor, minha gente, não aparece assim como mágica, simplesmente porque alguém resolve adotar três crianças. Muitos adotantes qualificam o amor que sentem pelos filhos adotivos como "amor a primeira vista". Há muito romantismo e clichês quando o assunto é adoção, e como meu marido e eu não nos ajustamos a essa lógica que pasteuriza as relações, nossa história não é bem vista em grupos apoio a adoção. Por que assumimos que o amor pelos filhos que chegam pra gente pela adoção é uma construção. Assumimos medos em geral desconsiderados na narrativa dos outros pais adotantes. Como mãe, senti medo de não amar, ou amar pouco, ou amar errado (amar por pena). E será que eles(meus filhos) me amarão por gratidão? E minha família, amará meus filhos? Meus pais amarão meus filhos na mesma medida que amam os netos "de sangue"? Quando um bebê nasce em uma família, as pessoas festejam, visitam, presenteiam. Tenho sobrinhos, sei do amor que senti quando os vi pela primeira vez, conheço a sensação, da vontade louca de pegar no colo os pequeninos, de estar presente na vidinha deles.  E se minhas irmãs não demonstrassem o mesmo por meus filhos? Não ter meu DNA significa que não terão meu nariz, a cor da minha pele e logo não teremos aqueles comentários do tipo "ai, tem o seu queixo!" que tanto fortalece os laços entre pessoas da mesma família. Ter semelhanças físicas é um passaporte para pertencer ao grupo. E se minhas irmãs acolhessem meus filhos como quem acolhe os filhos de um amigo, por simpatia e não amor? Meu pai, quando as crianças chegaram, esteve engajado em dar-lhes subsistência. Ele achava que eu e meu marido tínhamos feito uma boa ação em adotar as crianças (o que é muito comum na sociedade). Meu pai foi o avô mais fantástico que eu um dia poderia imaginar. Ele permitiu-se o enamoramento. Na convivência deles eu vi meu pai superar os clichês e apaixonar-se por cada um deles. Porque a família também precisa estar disponível para o amor, como meu pai esteve, e talvez não seja justo pedir que também estejam nesse espírito de amar. Em uma reunião de apoio a adotantes, uma senhora contou que simplesmente cortou da convivência familiares que não amaram o filho adotado. Não sei se é justo, mas por vezes é o que se pode fazer para impedir que nossos filhos sofram rejeições e desamor. Em tempo, a imagem é minha filha usando um coque "Banana". Ela não tem meu nariz, mas vai pouco a pouco apreciando meu espírito.