A SERENATA
Adélia Prado
Adélia Prado
Uma noite de lua pálida e gerânios
ele viria com boca e mãos incríveis
tocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobo
o que não for natal como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier,
porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos-
só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela,
se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?
Ontem vi a jornalista Mônica Waldvogel sendo entrevistada por Marília Gabriela. A certa altura, Marília inicia uma pergunta comentando que a Mônica não preencheu na ficha da produção o ano de nascimento, e "atirou": a partir de que idade você passou a se incomodar com a idade. Indelicada com alguém que floresce delicadezas? A Mônica se saiu muito bem. A Marília parecia uma ave de rapina.
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