Tenho andado soterrada por trabalho da pior espécie, daquele que vem acompanhado por uma corja de sentimentos e questões que nos fazem pessoas piores. É trabalho demais e de péssima qualidade. Mas o que mais me apavora é como podemos ficar obcecados com os ambientes e as histórias do trabalho. Houve uma época em que eu não tinha, em tese, trabalho (era "só" estudante de doutorado, e isso não é trabalhar). Quando as pessoas me conheciam e perguntavam "onde" eu trabalhava e eu não tinha nada para indicar "pertença" ficava desqualificada no cenário das relações. Parecia que eu "era o que eu fazia" (ou não fazia" como trabalho). Eu era o trabalho que eu fazia e se eu não fazia nada (em termos de trabalho) eu não era ninguém.Comecei a perceber que as pessoas eram definidas pelo trabalho que realizavam. E então me perguntei, e se tiram o trabalho delas, o que resta? Sabe quando alguém nos pede identificação e a gente diz: Sou Fulana, de tal lugar (de trabalho)? Pois quem eu era e o trabalho (ou o lugar onde eu trabalhava) se confundiam, eram uma coisa só. Eu li sabe lá onde que não devemos dizer nosso nome associando-o à empresa em que trabalhamos. Isso nos reduz como pessoas, dizia o artigo e eu concordo. Depois que li isso, passei a dizer meu nome e sobrenome, e só. Só digo onde trabalho quando perguntam, logo a seguir.Também passei a investir mais em mim no que diz respeito ao não-trabalho, ou pelo menos pensar sobre isso. Tipo, o que você escreveria em um cartão de trabalho: professora e.....? Adivinhadora? Mágica? Aprendiz de acrobata? Passeadora de cães (com a Diana em casa eu poderia dizer isso!). Boa muito boa de soneca? O que resta de você se tirarem o trabalho que você faz, afinal?
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