Hora de retomar o blog. Quem esperava fogos de artifício e champagne, peço desculpas e prometo uma hora qualquer fazer um post com estas características, em outra ocasião. Para meu retorno, prefiro outra imagem.
Chego, abro o portão. Vejo que o mato cresceu nos canteiros e sinto um pouco de remorso pelo abandono. Abro a casa, forte vem o cheiro familiar que é uma combinação das essências de tudo que compõem minha vida. Uma a uma, vou abrindo as janelas. A luz sai envolvendo os móveis e os cantos das paredes de uma maneira desavergonhada. Parece que tudo foi subitamente desperto sem cerimônia. É preciso arejar a casa, as idéias, minha alma. As cortinas serprenteiam seus barrados, tão donas de si, dançam a música do vento, fazem gracejos para ninguém. Vou até a cozinha, coloco água no fogo para passar um café. Na janela minhas ervinhas reagiram ao abandono com alegria, crescendo desgovernadamente sem meus ataques estéticos de poda. O hortelã está tão verde que reveste-me de esperança. Abro a porta que dá para o quintal. Avisto a mangueira...Enquanto espero a água ferver, preparo o pó e sento-me a namorar com os olhos o quintal da minha casa...Tudo tão alegrinho. Ali não existe aquecimento global (se é que existe em algum lugar), está tudo em harmonia e a vida segue seu curso sem dramas. Morreu, morreu. Viveu,viveu. Nasceu, nasceu. Uma borboleta amarela visita meu pé de couve. Acho que namoram! No meu quintal também não há preconceito para o amor. Tem até uma formiga apaixonada por uma pedra! Lembrei-me de um trecho do livro de cartas de Caio Fernando Abreu:
“O bicho homem não faz outra coisa a não ser pensar no amor. Até as relações de produção, a luta de classes, a ecologia, o jogo pelo poder: tudo, questão de amor. Formas de amor. Amor é a palavra que inventamos para dar nome ao Sol abstrato em torno do qual giram nossos pequeninos egos ofuscados, entontecidos, ritmados. A vida toda”.
Sol abstrato...Duas coisas que defendo com a vida se precisar, a liberdade e o amor! Mas isso quem frequenta este blog já sabe....O amor que me faz abrir esta casa imaginária, como quem se prepara para receber quem ama...Que me faz partir, acreditando ir ao encontro. E que me faz regressar...De volta....
Imagem: Sintra, 2009
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