A primeira vez que li o poema do Mário Quintana "da vez primeira que me assassinaram", era jovem e ainda não havia experimentado as vilezas dos homens. Na época, não fazia sentido pra mim o que o poeta dizia. Se eu ainda desconhecesse o sentido do poema do Quintana, hoje, ao visitar o blog do Dedalus, algumas vezes citado aqui e incitador de idéias das algumas postagens do "pastel", não teria dúvida sobre o que dizia o poema. Eu estou lá, citada como "doutoranda em educação" que escreveu "obcessão" no lugar de "obsessão" no post "Física Quântica para portugês ver". O post em que apareço, com direito a imagem do blog e tudo, é um alerta para o não-hábito de leitura. E eu que passei a tarde na Fnac, namorando os livros, sentada no chão. Comprei dois, um para oferecer de presente e outro para mim, do Mia Couto, que aparece na contracapa dono de um olhar profundo. Talvez se ele (o Mia) tivesse lido o post nem tivesse reparado no meu tropeço, ou se o tivesse o acharia insignificante diante das idéias circunscritas. Não estou dizendo que ele (o Mia) concordaria com as idéias do post, mas imagino que talvez percebesse a intenção de comunicabilidade no texto, e para ele, isso fosse suficiente, como o é para mim. Tento colocar-me no lugar do Dedalus buscando imaginar o percurso das suas idéias ao escrever o post e suas escolhas discursivas. Fomos três jumentos quase doutores citados no blog como cometedores de erros ortográficos imperdoáveis. Eu não sei se ele os conhece, mas conhece a mim, como quem trocou algumas mensagens até então civilizadas e gentis. O desinteresse dos alunos pelos livros é algo que me entristece, mas com a escola e com os professores que aí estão eu consigo compreender o fenômeno. Sei que o conhecimento (conquistado através da leitura e do estudo) pode ser convertido em poder, aparecendo no discurso no uso excessivo de termos técnicos e uma cerimoniosa erudição (e os outros que corram atrás para entender!). Nesse caso, mostrar que você domina um conhecimento no qual o outro é um ignorante é uma forma de intimidação, de fazê-lo calar. Foi como me senti: uma jumenta, que nem sabe escrever, intimidada por quem o sabe. Ser uma pessoa conhecida do autor do blog abria a possibilidade da interlocução, mas ele preferiu outro caminho. Guardadas as devidas proporções lembrou-me uma ação terrorista, em que não há diálogo, e o outro é intimidado pelo poder. Deixo de agir (de dizer, no meu caso) por medo ás retaliações (aos comentários). Se eu tivesse usado o corretor do word não teria sofrido este constrangimento. Vou corrigir o erro no referido post, e a partir de agora, passarei a usar regularmente o corretor de texto.E esquecerei essa história. Não vou sujeitar-me a censura de quem quer que seja, de intimidação. Não tenho medo de assumir minha ignorância e assumo meu erro. Foi triste "logo eu" servir de ilustração para o não-hábito de leitura. Eu que ganhei concurso nacional de poesia com 9 anos de idade, falando do sapo Jão-Saltador! Mas não foi difícil ler o contexto: já fui assassinada de forma mais valente e audaz! Alguns nasceram para saltar da prancha, outros, para espetarem o bumbum do colega....
Um comentário:
Cara Ana Paula,
Eu não tinha escrito nem seu nome, nem o nome do seu blog, nem aparece na imagem algo que possa identificá-lo diretamente (o mesmo vale para os outros exemplos citados). Apenas descrevi o que vi e tirei uma conclusão que vai muito além de você ou dos erros no seu blog, e que se insere numa discussão bastante ampla sobre como as pessoas trabalham com a cultura atualmente. Não lhe xinguei - nem a ninguém - de coisa alguma: apenas mostrei algo bastante comum nos dias de hoje, que é a presença de erros ortográficos em palavras mais ou menos comuns. Minha conclusão, que pode estar errada, é
que esses erros de escrita (que em nenhum lugar eu disse ou dei a entender que são imperdoáveis) aparecem por pouca familiaridade com a língua escrita. Se há outra explicação (deve haver), espero que apareça. No mais, eu não quis lhe ofender: se você se ofendeu, só posso pedir desculpas. E até onde eu entendo, nunca fui incivilizado ou pouco gentil com você. Se você acha isso, peço desculpas novamente: acho que não há muito mais que eu possa fazer. Se há, por favor, me fale. Sinceramente, eu não queria causar esse mal-estar, que também me atinge. Quanto ao discurso do poder, só posso dizer que noto que isso lhe incomoda bastante, mesmo - eu só posso argumentar que fiz o que acho que um professor deve fazer, que é mostrar exemplos de erros desse e daquele tipo, que podem ser evitados, SEM IDENTIFICAR quem os cometeu (mas tomando o cuidado de mostrar que não inventei nada): não vejo isso como uma forma de me mostrar melhor que ninguém, mas apenas uma forma de indicar caminhos e descaminhos que eu conheço. Mais uma vez, só posso lamentar o efeito que provoquei em você.
Um abraço.
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