terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Afinal, pode a ciência ser divertida?

Aqui chove. Eu aproveito as derradeiras horas de 2008 para trabalhar na análise dos programas de TV que vim estudar. Realizo a tarefa sem grande entusiasmo. Minha sanfona me espera ansiosa para brincarmos em um canto do quarto. Ela tem olhos. Eu a acho muito obediente, poderia ser mais travessa. Mas ela espera quietinha, o fole suspira longamente. E eu a olho amorosamente. "Não é uma experiência, Carlota, é mais um aviso de perigo". Esquentar água no microondas pode ser perigoso, é o que diz o "cientista apresentador". Depois uma bola de sabão cheia de gás carbônico estoura e eles dizem "é mesmo assutador". Preciso ver Jogos Mortais, o último, antes que saia do cinema. Isso sim é assustador, e aliás, esta expressão nem precisa ser convocada ao longo da trama para que nós expectadores nos assutemos. Mas isso eu não posso dizer na tese, pois são impressões minhas. Minhas impressões só tem valia sem alguém mais velho, mais famoso, mais competente, que tenha publicado mais e principalmente "convencido mais pessoas da sua genialidade" tenha dito o mesmo que minhas impressões sinalizam. Parece-me que nem mesmo quem trabalha com ciência se emociona e se diverte com ela. Fazem programas de experiências e em casa espicham-se no sofá para ver Titanic. Talvez seja uma fase da minha caótica trajetória, e "se calhar" (como se diz aqui em Lisboa) eu volto a ver esse cenário com mais alegria. Na verdade, eu continuo a me emocionar com a ciência. Aqueles bebês medusas que vi no Oceanário de Lisboa (tem post sobre isso) arrancaram-me lágrimas! Só não sei se quer investir minha energia para que os outros se emocionem com isso. Ou ainda e pior, não sei se todos os outros que eu gostaria que se emocioanassem estariam preparados para conectar-se com esse tipo de emoção. (Neste momento, alguns leitores deverão estar a dizer: mulherzinha presunçosa, acha-se mais preparada, como se fosse de alguma maneira superior essa capacidade de se emocionar). Ok, acho que disse isso mesmo, quem quiser pode criticar ou enxovalhar-me. Mas não pode ser só isso, não é possível que os homens (e mulheres..) queiram tão pouco da vida! Um exemplo e encerro essa conversa. Houve um natal em minha casa, que alguém ganhou uma fita (faz tempo isso...) de música clássica (que não me lembro mais o que era). Pois bem, trocados os presentes voltamos á mesa e alguém colocou a música para tocar. De repente minhas irmãs chamam da sala eufóricas para vermos "algo". A cena era a seguinte: nosso gato embevecido pelo som que saía do aparelho encontrava-se na sala literalmente abraçado as cixas de som! A música causava nele uma espécie de frenesi, ele esfregava-se no aparelho, subia e descia, procurando um local no qual pudesse fruir a maravilha sonora ainda melhor! Aquilo foi lindo, um ser vivo hipnotizado pela beleza. Se um cérebro muito menos sofisticado como o do Mimi é capaz dessa experiência, não seríamos todos??

Um comentário:

Nós amamos cachorros! disse...

coisa linda e lembrança maravilhosa, exercicio de delicadeza, obrigado filha