Era uma vez uma goiabeira. Como toda goiabeira, tinha aquele eterno ar de adolescente, magrela e espivitadinha. Alguém com inclinação a poeta prendeu-lhe ao caule uma jovem orquídea. E a goiabeira esticou-se em direção ao céu, servindo de morada e pouso para passarinhos, fazendo fronteira com o azul. A cada temporada, a goiabeira ficava "pendida" de goiabas, o que atraía a atenção de aves e crianças, e não tão crianças também. A molecada no melhor estilo Monteiro Lobato pulava o muro e roubava a fruta aos montes. Entendam que roubar goiabas no Brasil não devia ser considerado crime, é mais uma ação poética, uma espécie de furto festivo.Mas o dono da goiabeira não via a situação assim. Ele não morava na casa, era uma casa de verão. Mas o avisaram dos furtos e ele veio da cidade grande disposto a acabar com a alegria da turma lobateana. Quis subir o muro, transformar seu ranchinho em castelo. Mas nenhum pedreiro topou. E o homem de coração de carvão de posse de um facão cortou a goiabeira rente ao chão. Ele é avesso a alegria. Ele não pode compartilhar com os outros da generosidade da sua árvore. Ele a prefere morta. Ele não tem inteligência para negociar com a molecada as entradas furtivas em seu quintal. Ele é um homem mau e eu gostaria de poder jogar cocô de cachorro nele.
PS: Esta história é real. É o vizinho dos meus pais. Arrancou a goiabeira na qual o tiê sangue vinha pousar para minahs fotos. Mas não foi só ele que cometeu esse horror, a vizinha da frente derrubou uma árvore ainda maior! Minha mãe disse que os passarinhos estão desorientados, sem saber onde pousar, acostumados com a árvores.Acho que criarei quando voltar uma Associação para Pássaros Surpreendidos pela Ausência Súbita de Árvores. Eu fiquei muito triste com essa história.
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