A quem interessar possa, há no youtube a entrevista com Amit Goswami no Roda Viva e o documnetário Quem Somos Nós, sobre qual andei falando com alguns amigos portugueses. Fala de física quântica, a física das possbilidades. A obsessão* por entender e buscar explicações e o risco de "perder-se para sempre no labirinto do mistério". *corrigida, versão post 2
5 comentários:
Cara Ana Paula,
Eu não sei se devia meter o meu bedelho nisto, mas sou físico e, bem, "Quem somos nós", não é um filme de física, e eu não fico espantado que não tenha causado impacto nenhum em Portugal. Amit Goswami, no meio dos físicos, é visto como um charlatão que vende pseudociência (eu não consegui assistir a entrevista toda dele no Roda Viva, por ser muito... ruim - mas é só minha opinião). Nenhum físico profissional que eu conheça - e eu conheço bastante gente da área, por ser membro ativo de algumas comunidades científicas profissionais - apóia as idéias apresentadas seja por Amit Goswami, seja pelo filme "Quem somos nós". No meu site tem uma listagem de links ("Outros sites interessantes") onde aparece o link de um blog chamado "O dragão da garagem"; nesse blog você pode ler umas postagens intituladas "O Guia Cético para assistir a “What the Bleep do We Know?”", que resumem bem a coisa... Veja, entre as pessoas que nunca estudaram física a fundo fica a impressão de que mecânica quântica é algo mágico e filosófico e etc e tal, e na verdade, a mecânica quântica é só uma ferramenta de base matemática para tentar descrever o micro-mundo. Tirar implicações filosóficas de uma ferramenta é como achar que o segredo do universo está numa caixa de ferramentas. Eu acho que não está. Outra coisa: eu acho que sei um pouco mais de mecânica quântica que a média das pessoas, e não vejo nela nada de tão maravilhoso assim. Será que o problema é comigo?
Um abraço!
Prezado Dedalus (ui),
Não ter o apoio da comunidade científica não significa que as idéias de um cientista sejam inconsistentes, muito pelo contrário. Pode ser que o cientista em questão não tenha boas relações políticas, não seja suficientemente agressivo para calar outros cientistas e fazer sua voz ser ouvida, ou ainda possua suposições inquietantes que poderiam promover um rearranjo nas idéias. O que me chateia nos cientistas é não reconhecerem-se enclausurados e suas prisões ontológicas, é a falta de ousadia de "pensar o que outro pensa" mesmo que provisoriamente. Deixa-me enlouquecida que tenha me sugerido um "Guia Cético"! E, sim!, espanta-me que aqui em Portugal não tenham sabido do documentário. Acho importante ter um bom repertório de idéias, conhecê-las no minímo, mesmo que não concordemos com elas. Eu de fato entendo quase nada de física quântica, sinto-me atraída pela possibilidade de se estar á vontade no caos e de se aceitar o mistério. Talvez eu também seja vista como uma charlatã (aliás, é quase certo). Ainda mais que trago pra ciência a emoção como fundante da racionalidade. Vale o risco. Em fim de tese, sinto-me exausta e com medo. Tenho pavor de virar refém de uma prisão ontológica. Parece que meu destino será mesmo vender picolé na praia, livre para pensar...E se você se sentir "legal" para arriscar experimentar um picolé de um sabor inédito criado por mim, é oferta da casa.
Cara Ana Paula,
Não se sinta enlouquecida, por favor. O ceticismo é o guia básico da ciência: em ciência deve-se duvidar de tudo e de todos, inclusive das evidências. É claro, porém, que a dúvida infinita não leva muito longe. Assim, ceticismo e algumas certezas fazem a ciência funcionar. O que talvez você não tenha entendido é que eu apenas quis lhe avisar do status que tem o que você considera emocionante... Não vou discutir com você: na enorme maioria das vezes, as pessoas só acreditam no que querem acreditar, inclusive eu e você. E se alguém acha que a comunidade científica inteira está errada, tudo bem: "quem somos nós", cientistas, para discordar? Toda pessoa pode ser livre para pensar o que quiser, mas aí sou eu que penso: e se a pessoa quiser que os outros acreditem, por exemplo, que todos podem voar, bastando acreditar e saltar do precipício? Nesse ponto, prefiro ser conservador... Para terminar, por favor, mais uma vez, não enlouqueça: presos estamos todos, à realidade e ao que é possível, mesmo que às vezes finjamos que o impossível é alcançável.
Um abraço!
A pré-loucura é minha condição primeira, mas nem sempre o que me faz atravessar a fronteira chega a ser inspirador. Você sugeir que eu consulte o guia como se não soubesse da importância da dúvida para a ciência(sobre o que aliás minha resposta falava, não?) e dizer que "quis me avisar sobre o status" do Goswami é o que de fato me deixa sem fala. Eu sei da má fama do Goswami e não deixei de incluir esse detalhe na apresentação que fiz aos meus amigos portugueses (talvez devesse ter incluído no post). Dizer que "a comunidade científica inteira" acredita que ele é um fiasco para legitimar seu argumento, como se só porque a maioria chegou a essa conclusão significasse então que estriam certo, isso é um argumento frágil vindo de você. A maioria pode estar errada. Fiquei pensando também que talvez o fato de eu ser uma "cientista da área de humanas" possa fazer-me parecer menos preparada para este tipo de discussão.A verdade é que há um enorme fosso separando "pipetas e telescópios" dos nossos gravadores e transcrições. Muita gente ainda não acredita na ciência feita por nós.Meu blog de ciência nem é entendido como blog de ciência. Eu faço análise do discurso. Não sei o que você sabe e o que imagina sobre o seja exatamente este tipo de análise. Mas ao ler seu primeiro comentário, sei exatamente o status que suas palavras querem lhe conferir enquanto protagonista da fala. Na sua fala estão os outros cientistas também. E eu, louca e ingênua. Se uma hora você quiser, quando a cabar a tese, faça o análise do seu comentário.
Um beijo
O rosa e o cinza são condições temporárias daquela parte de mim (ou de nós) que ainda não sabe muito bem com que cores pintou as suas possibilidades.
E das possibilidades espero que sejamos as melhores...
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