sábado, 28 de fevereiro de 2009

Planetinha ordinário

Prestes a concluir minha tese, cuja órbita inclui inúmeras paragens no planetinha ordinário “Razão X Emoção”, assombra-me ver-me arrastada para uma discussão sobre este tema. Como ainda tendemos ao pensamento dicotômico! Escolhi estudar a emoção sob uma perspectiva discursiva, o que poupa-me das pendengas entre filósofos, neurobiólogos, evolucionistas, educadores e chatos-de-plantão.
Para a análise do discurso a emoção não é apenas uma das faces de uma moeda na qual a razão também apareceria, mas a emoção é fundante da racionalidade, são amalgamadas. Em Portugal, a análise do discurso é vista como novidade e muitas vezes interpretada de uma maneira que a faz parecer mais uma sessão de análise*. Aqui o nome de Péuchex (fundador de uma das linhas discursivas) é desconhecido** como também o é Amit Goswami***, independente da aceitação da comunidade científica. Para quem não sabe, a análise do discurso não é fazer uma análise de um discurso, de um texto. Ela vai além do que é dito, fazendo emergir os sentidos pré-construídos que são ecos da memória do dizer. Por memória do dizer entende-se a memória coletiva de constituição social. Isso porque embora o sujeito tenha a ilusão de ser autor do seu discurso e de ter sobre ele controle e autonomia, encontra-se de fato engendrado em um contínuo, visto que todo discurso já foi dito antes por outrem. Logo,você sempre fala com as palavras dos outros. E é aí que a porquinha torce o rabo, pois cada um de nós não é único no sentido de que encontra-se assujeitado ao coletivo. Através da análise reconhecemos as vozes desses muitos autores que compõe a fala de cada um de nós, e os grupos aos quais pertencem. Quando definimos o que é ciência (ou o que não é ciência) fazemos uso dessas vozes. Essas vozes parecem esclarecer tudo, deixar tudo definitivamente no lugar “certo”, trazer paz para o caos. O que me deixa triste, e digo isso do ponto de vista de quem sempre sonhou alto para nossa espécie, é o fato da ciência usar “o que sempre fez” como forma de legitimar “o que anda fazendo”. A evidência que a ciência funciona é a existência da própria ciência, mesmo que inúmeras vozes (aquelas que nos contariam outras versões dos fatos) sejam excluídas do discurso. Eu não saberia dizer como mudar, por exemplo, o fato da emoção não aparecer na fala dos cientistas. Eles não podem convocar essa voz sob o risco de perderem a credibilidade. Também não aparece na fala do professor. Só professor de cursinho pode ser “engraçadinho”. Na verdade estes elementos são imposições do contrato discursivo, que ninguém discute, mas todos obedecemos, para garantir a comunicabilidade. Gostaria que minha tese ajudasse a rever as cláusulas desses contratos. De qualquer forma, sinto mesmo é vontade de silenciar. Mas para a análise do discurso o “silêncio” também comunica algo, e eu só queria mesmo livrar-me disso.

*Como por vezes acontece também no Brasil
**Seus principais títulos não existem na biblioteca de Lisboa
***Gerador de controvérsias do post anterior

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Física Quântica para português ver

A quem interessar possa, há no youtube a entrevista com Amit Goswami no Roda Viva e o documnetário Quem Somos Nós, sobre qual andei falando com alguns amigos portugueses. Fala de física quântica, a física das possbilidades. A obsessão* por entender e buscar explicações e o risco de "perder-se para sempre no labirinto do mistério". *corrigida, versão post 2

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Nunca ouvi falar!


Uma das coisas que mais aprecio nisso de ser estrangeira é a possibilidade de saber de pessoas fantásticas, que por algum motivo no Brasil não são apreciadas e que portanto são pouco ou nada conhecidas (também pode ser conhecida no Brasil e EU seja a ignorante!).
E aí, no encontro com as pessoas, papo vai papo vem, os nomes começam a surgir: diretores de cinema, cantores, poetas, escritores, filósofos....
Sinto-me igualmente feliz quando também trago algum nome novo, não precisa ser brasileiro não, alguém que esteja causando frisson do outro lado do oceano e que aqui seja um desconhecido. Imaginar que eu "nunca tenha ouvido falar" sobre alguém que aqui seja uma celebridade (não no sentido banalizado dos Big Brother´s da vida) é mesmo um grande prazer. Enquanto no Brasil o documentário "Quem somos nós" fez gente lúcida pensar e maluco surtar (sim, estou falando dessa pessoa...hahahahaha), aqui o filme não existe! Não sabem que é Amit Goswami. Como a Adélia Prado pode ser desconhecida? Com minha amiga Antonieta, a socióloga que conheci na vista ao zoológico, fui aprensetada ao filósogo Peter Singer e o diretor Kusturica do filme Gato preto, gato branco (que ainda não vi) de 1998, que ela disse ser "o melhor". Como algo que alguém (nesse caso a Antonieta) entende como "o melhor" pode não existir em nossas vidas? Eu posso até ver e não concordar com a Antonieta, mas no mínimo saber que existe, não?! Cada povo elege quem vai ser sucesso ou não em sua cultura ou somos de tal maneira manipulados que alguém filtra o que nos chega, ou um pouco de cada, ou ainda outra possibilidade que ignoro?
Vamos ao trailer do Kusturica!

Massagauçu em Caraguatatuba, perto de Ubatuba:podem rir, não é um travalínguas, mas poderia....


Aí está minha "casa", a praia de Massaguaçu, em Caraguatatuba. Sim, os nomes são esquisitos, são indígenas. Fica no litoral do estado de São Paulo, indo em dreção ao estado do Rio de Janeiro. É o litoral norte. A praia é extensa, e na verdade as fotos mostram também a praia da Cocanha, onde o mar é mais "amigão", dá pra nadar, tem uma prainha com sombra. Já o mar da praia de Massaguaçu é "valente", um perigo. Há uma região de cultivo de mexilhões, moluscos. Chamamos de "fazenda de mexilhões" (o nome técnico é mitilicultura, mas isso é coisa de biólogo!). Quando a maré está muito baixa vemos nas pedras invertebrados maravilhosos, uma verdadeira aventura. As montanhas vistas sempre á direita e ao fundo nas fotos são na realidade uma ilha, a Ilha Bela, uma cidade para qual se vai de balsa. Convencionou-se que lá é chique, alguns dizem ser mais bonita. Mas nada bate, na minha opinião claro, Massaguaçu. A mata, o mar, o céu! Presumo que este paraíso será muito diferente daqui uns trisnta anos. Porque o "homem predador" vem avançando com sua oferta de condomínios ensolarados....Hoje a cidade é uma cidade pobre, fora da temporada circula pouquíssimo dinheiro, habitada por aposentados, muitos homessexuais em busca de uma vida nova, pescadores e ET´s. Eu sou da última categoria. Meus pais também, como se vê a minha mãe na prainha da Cocanha de boné vermelho em uma das fotos. Uma figura! Eu gosto da cidade e espero um futuro melhor para ela, que talvez seja escolhida por mim como minha casa. Estão convidaos, meus novos amigos portugueses, para visitarem-me em minha casa (ainda uma idealização) que terá uma cozinha no lugar da sala de visitas para comermos pão de queijo, doce de leite ("que vontade da peste!") e biscoitos de polvilho, ao som do meu acordeon! Ê vida boa!

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Motivos "verdes" para voltar

Olhem a cara do cara e me digam se não é para eu estar morta de saudades??? É emu sobrinho o "donoooooo do mundoooooooo!!!" e sua mãe, minha irmã caçula. Eles vão me visitar em abril. A Europa que se prepare para o quarteto fantástico! A tia te ama Saviola!

Cotidiano


Esta é a rua em que eu moro e a entrada do meu prédio. Reparem que os carros ficam estacionados em fila dupla no meio da rua. Muito comum aqui. A rua tem alguns café e oficinas mecânicas. Na calçada, junto a entrada do prédio, há uma máquina para se pagar o estacionamento. Estacionou, pagou. Quando a máquina está estragada, o motorista coloca um papel no interior do carro dizendo que ela está "avariada".
E depois, para matar a curiosidade alguns, minha casa de banho privativa, que eu amo de paixão. Novamente reparem na minha literatura de banheiro. Vou sentir saudades desse tempo!

Frango com caril

Ontem jantei com a Mónica, o Zé (namorado da Mónica) e o Luís (primo da Mónica, escrevi certo seu nome Luís?). A Mónica preparou frango com caril, que a jumenta aqui não identificou o que era, nosso curry. Também não sei dizer se é exatamente o mesmo, mas tudo indica que sim. Comi como se me preparasse para um mutirão de construção de casas, mas estava mesmo uma delícia. A Mónica, muito atenciosa, sabendo que amo morangos e lembrando-se da nossa conversa sobre isso, serviu morangos com chantilly de sobremesa. E dá-lhe fechar a boca depois! Etamos treinando a gravação do protuguês e brasileiro invertido. Precisaremos treinar muitooooooo. Eu pelo menos, frustra-me ver meu desempenho. Na outra semana vou preparar quibe, que por aqui é desconhecido (ou conhecem por outro nome e dirão quando o verem...ah..isso aqui é pliploa!). Depois conto.

Ensopado de enguias

Enfim, as enguias. Na semana passada "erramos" o restuarante, e estávamos sóbrios, nem venham com gracinhas. Mas dessa vez mudamos o local, sugestão da Telma e do marido (amigos da Mónica e do Zé). Fomos a Casa das Enguias, com uma cebeça de um boi na parede e azulejos retratando touradas. Havia uma aquário com as enguias em exposição. Matar as engias não é tarefa fácil. Entendam que nem vê-las no aquário fui, preferi comer sem pensar no bicho para não ser tomada por uma truculência residual (ou seria integral?) que existe em mim. Mas a Mónica contou-me que sua mãe tentou fazer em casa os bichinhos e os peixinhos continuaram vivos depois de congelados-descongelados, a andarem pela cozinha! O que importa mesmo, é que as enguias, fritas ou ensopadas, como comemos, são uma delícia. Encerro este post com um poema da Clarice Lispector...Truculência.

Nossa Truculência
Quando penso na alegria voraz com que comemos galinha ao molho pardo, dou-me conta de nossa truculência.Eu, que seria incapaz de matar uma galinha, tanto gosto delas vivas mexendo o pescoço feio e procurando minhocas. Deveríamos não comê-las e ao seu sangue?Nunca.Nós somos canibais, é preciso não esquecer.E respeitar a violência que temos. E, quem sabe, não comêssemos a galinha ao molho pardo, comeríamos gente com seu sangue. Minha falta de coragem de matar uma galinha e no entanto comê-la morta me confunde, espanta-me, mas aceito. A nossa vida é truculenta: nasce-se com sanguee com sangue corta-se a uniãoque é o cordão umbilical. E quantos morrem com sangue. É preciso acreditar no sangue como parte de nossa vida. A truculência.É amor também.


quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Jamie Oliver nas escolas

Em 2005, o chef britânico Jamie Oliver produziu uma série para a televisão em que buscou modificar a merenda escolar no Reino Unido, convencendo crianças e cozinheiras a abandonarem um cardápio estilo fast food e adotarem uma alimentação mais saudável. Ele organizou um novo menu, participou do preparo e ajudou a servir ás crianças na hora do almoço. Desapontado, observou que as crianças não se interesavam pela nova comida e continuavam a ingerir os produtos alimentícios com os quais estavam habituadas. A série, exibida no Brasil pelo canal GNT e disponível no youtube, mostra as estratégias de Oliver para despertar o interesse dos estudantes. Ele trabalha com a família, com a escola, com os professores e realiza mais de uma atividade com as crianças buscando contruir com elas novos significados para o alimento. Embora a série tenha sido um sucesso levando o governo inglês a impor ás escolas mudanças nos hábitos alimentares das crianças, Oliver fracassou na escola em que trabalhou. As crianças não se interessaram pelo alimento preparado pelo chef, mesmo que fosse saudável, saboroso e com bom aspecto. Por que os estudantes não se interessaram pelo novo cardápio? O cansaço de Oliver ao final de cada atividade ao constatar a pouca adesão dos jovens remete-nos ao cansaço daqueles educadores que mesmo investindo em estratégias de ensino que buscam atrair o interesse dos educandos não obtém o resultado esperado. O alimento oferecido por Oliver e o conhecimento presente em nossas escolas não seriam por si só interessantes?
Vejam o vídeo, este moço é uma tetéia e Deus devia ter feito um para cada uma de nós!

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Eu disse C-N-P-Q...não KGB!

Dia lindíssimo! Digam se eu não pareço uma agente da KGB com essa gola? Perdoem o momento narcísico...E cuidado comigo...

Presente do Brasil da AMIGA Chrysocca

Presente da minha amiga Chrystianne Ayala. Não preciso dizer o quanto ela é especial na minha história, né?

Alguém aí quer uma tigelada?


Tigelada é uma sobremesa. Esta me foi servida no delicioso fim de semana na casa da família da Mónica, em Castelo Branco. É uma espécie de pudim de leite só que assado no forno á lenha, sem o banho maria. Forma-se uma "casquinha" sobre ele (veja na foto). Leva canela. Muito bom. Na casa da Mónica, como na minha no Brasil, muitos alimentos são feitos em casa. A mãe e a tia da Mónica fazem o próprio pão, como o faz a minha mãe. Na cada da Mónica o azeite, o vinho, a aguardente, as azeitonas são produtos da própria "quinta". Minha mãe faz conservas. Na minha opinião, isso é muito bacana e sofisticado. Em tempos em que as pessoas só sabem consumir "produtos alimentícios" é o máximo famílias que têm rituais de preparar "alimento". Picar, cortar, moer, sovar, cozer, assar, polvilhar, moldar com as mãos, untar: ai que a cozinha é uma farra! Alguns dizem não ter tempo para isso. Acho que é preguiça, desculpem. Sempre se arruma tempo para aquilo que nos é importante. E se não o fazem, é porque não é importante. O tempo tem "costas largas". Vejam, em Portugal ou no Brasil, pessoas ainda se ocupam com prazer e capricho daquilo que eles e os que amam irão levar a boca. Alimenta-se o corpo e a alma!

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Cecília Meireles declama....

"Flanei" por aí e encontrei 3 blogs/sites deliciosos: um sobre a Cecília Meireles (http://apoetadaalma.blogspot.com), o site oficial do Affonso Romano (http://www.affonsoromano.com.br)e um da Clarice Lispector (http://claricelispector.blogspot.com). Mas o que me deixou atônita foi esse áudio da Cecília declamando um poema sobre um incidente com uma borboleta..o desejo de tocar a beleza e o remorso da morte...compaixão! Isso que é educação ambiental, o resto é adestramento.

Quais defeitos você cortaria?

Na minha doentia tendência aos despropósitos, no lugar de escrever a tese vagueio por blogs...

"Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso.
Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro."
Clarice Lispector

Atenção: você está sendo rastreado

Este blog que agora lêem possui um rastreador. Calma, isso não significa que poderei acessar ás senhas bancárias, os emails de amor (espero que vocês os tenham aos quilos!) ou saber a cor das roupas de baixo de nenhum visitante. Tranquilizem-se, um rastreador serve para que eu saiba quantas pessoas me visitam por dia, em que parte do mundo se encontram, que páginas visitam e quanto tempo permanecem em cada página. Foi assim que cheguei a conclusão que os posts com fotografia fazem mais sucesso. Provavelmente muitos dos sites e blogs que vocês visitam diriamente têm rastreadores, uma espécie de IBOPE, para aumentarem sua eficiência no que diz respeito a audiência. O Pastel recebe visitas dos EUA, do Canadá, da França, de todos os países de língua portuguesa, da Itália, da Finlânida, do Japão...Mas entendam, eu não sei quem exatamente me visitou, no máximo posso fazer inferências. Por exemplo, no universo de visitantes da cidade de São Paulo, não poderei saber quem anda a me visitar, pois são muitos os visitantes. Mas se conheci apenas um finlandês e recebo visitas da Finlândia da cidade dessa pessoa, concordam comigo que a chance de ser o dito cujo é grande? Mas ainda assim é apenas uma chance. Curioso é que declarar possuir rastreador pode representar o fim das visitas do blog! Explico:as pessoas visitam seu blog, mas não querem que você saiba, porque aí você pode achar-se demasiado importante ou perceber que tem alguma importância na vida desse visitante. Mais curioso ainda é que estas pessoas normalmente têm blog com rastreadores e conhecem os procedimentos para reconhecimento de rastreadores nos blogs que visitam. Ou seja, toda explicação só serve pra você que nunca tinha ouvido falar sobre rastreadores, pois estes outros estão "carecas" de saber isso tudo. Em resumo, a não ser que você more na Finlândia, continue a visitar-me sossegadamente, porque não vai dar na vista. Mundo feio esse nosso, é tão difícil encontrar o que de fato nos interesse e tanto esforço para fingir desinteresse quando algo nos interessa....

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Os gatos e a incrivel capacidade de desejar ter asas...

Enquanto estudo a vida continua, indiferente ao meu esforço, o que é mesmo perfeito para que o que realmente importa continue a acontecer (Afinal, para que mesmo vai servir minha tese a não ser converter-se em um título que fará com que as pessoas achem que eu valho mais do que realmente valho?). As gaivotas e os gatos auto-provocam-se sob a minha azul janela...Reparem na cauda inquieta do gatuno...Tal e qual nossos alunos na sala de aula, loucos para "saltar" para o acontecimento, se não fôssemos nós, os chatos-âncoras....

Farra no quarto da Ana Paula

Meu quarto está uma farra, não exatamente a farra que eu gostaria, mas vejamos. Estou quase-quase-quase-no-fim da tese. E todos os autores com os quais venho dialogando têm frequentado meu quarto. Uma loucura. Nesse momento o Bordieu está sentado na minha cama com cara de reprovação para mim, pois acha perda de tempo eu estar postando, quando devia estar "produzindo" (isso que dá ler tanto Marx!, cara chato!). O Charlot pegou minha bola de pilates e o Perrenoud tá tentando mostar "como é que se faz". Vai quebrar o bumbum, meu Deus. E todo mundo aqui tem idade o suficiente para não colar ossos com facilidade! Será que isso vale para imaginação? Ontem o Claparéde deu uma passadinha, um amor ele, servi até chá com bolachas belgas. E o Vygotsky só vem quando não tem ninguém, muito muito reservado. Disse-me que lamenta que o mundo tenha avançado tão pouco desde que partiu, que acha um absurdo as teses serem escritas obrigatoriamente tendendo para o impessoal. Claro que a vista mais aguardada por mim foi a do Nietzche. Que homem adorável, não acho que fosse gay nada. Servi-lhe vinho do porto. Queria que ele ficasse mais, pedi que lesse alguns escritos, mas ele tinha pressa de se ir... Ai meu Deus, o Chauraudeau tá batendo boca com o Bakthin no corredor, caramba, já disse que só podem ficar dentro do quarto! Eu devia gravá-los e depois fazer análise do discurso da transcrição! Ontem a tarde todos rimos muito com o vídeo do Hermeto Pascoal fazendo música no lago. Só o Bordieu não achou graça. Esse moço tá precisando namorar! Vocês acreditam que o Pêchex sabe tocar acordeon? Foi o maior assanhamento quando a Hanna Arendt chegou, fiquei com ciúmes, mas logo pensei que podia melhorar o humor do Bourdieu. Mas ela caiu de amores pelo Perrenoud, que mostrou sua habilidade na bola de pilates. Que loucura tá isso aqui....

Era uma vez uma goiabeira....

Era uma vez uma goiabeira. Como toda goiabeira, tinha aquele eterno ar de adolescente, magrela e espivitadinha. Alguém com inclinação a poeta prendeu-lhe ao caule uma jovem orquídea. E a goiabeira esticou-se em direção ao céu, servindo de morada e pouso para passarinhos, fazendo fronteira com o azul. A cada temporada, a goiabeira ficava "pendida" de goiabas, o que atraía a atenção de aves e crianças, e não tão crianças também. A molecada no melhor estilo Monteiro Lobato pulava o muro e roubava a fruta aos montes. Entendam que roubar goiabas no Brasil não devia ser considerado crime, é mais uma ação poética, uma espécie de furto festivo.Mas o dono da goiabeira não via a situação assim. Ele não morava na casa, era uma casa de verão. Mas o avisaram dos furtos e ele veio da cidade grande disposto a acabar com a alegria da turma lobateana. Quis subir o muro, transformar seu ranchinho em castelo. Mas nenhum pedreiro topou. E o homem de coração de carvão de posse de um facão cortou a goiabeira rente ao chão. Ele é avesso a alegria. Ele não pode compartilhar com os outros da generosidade da sua árvore. Ele a prefere morta. Ele não tem inteligência para negociar com a molecada as entradas furtivas em seu quintal. Ele é um homem mau e eu gostaria de poder jogar cocô de cachorro nele.

PS: Esta história é real. É o vizinho dos meus pais. Arrancou a goiabeira na qual o tiê sangue vinha pousar para minahs fotos. Mas não foi só ele que cometeu esse horror, a vizinha da frente derrubou uma árvore ainda maior! Minha mãe disse que os passarinhos estão desorientados, sem saber onde pousar, acostumados com a árvores.Acho que criarei quando voltar uma Associação para Pássaros Surpreendidos pela Ausência Súbita de Árvores. Eu fiquei muito triste com essa história.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Luau virtual: Aloha! (diz o filhote de robô com koala)


Ontem foi a festa de aniversário do meu sobrinho. Foi um luau. O Bolo era um polvo gigante. O cara ganhou dois pijamas de super herói, com capa e tudo. Isso que é presente bacana, hein! E eu participei da festa, graças a internet. Um viva a Internet! Viva! Enquanto no Brasil a temperatura beirava os 40, aqui estava no "atchim!" 11 graus. Eu me senti um cruzamento entre um andróide e um koala, porque as pessoas vinham me ver num canto da sala, como uma espécie de clausura virtual e curiosidade pelo exótico. Usei uma flor no cabelo e fui a única que bebi na festinha, vinho do porto, dá licença! Olha eu na tela (a foto foi tirada pela inha irmã e eu roubei do blog dela www.avessodeana.blogspot.com)

Quem não gostar disso vai ter dificuldade em ser meu amigo (Hermeto Pacoal)

O verdadeiro "efeito sanfona"

Eu ia aproveitar o domingo e postar o Chico César para as "psoas" portuguesas conhecerem, mas encontrei a Kathy e seu enorme sorriso ("quenem" o meu!) com seu acordeon.Chico fica para uma próxima. Vejam a Kathy e o efeito que a sanfona tem sobre algumas de nós. O sorriso parece de alguém que teve um encontro com o George Clooney! Mas é só o efeito sanfona...

sábado, 14 de fevereiro de 2009

O que é pior, dois invernos em um mesmo ano ou dois dias dos namorados?

Hoje é dia dos namorados aqui. No Brasil é no dia 12 de junho.

Menino do Rio!


Mónica e Zé: a música é do Caetano e essa é a Baby Consuelo. Década de 80.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

A história de Elza


Decidi ser bióloga aos 11 anos de idade e esse filme, A História de Elza, teve enorme peso em minha decisão. Mais tarde descobri que influenciou toda uma geração de biólogos, meus colegas de faculdade. Foram muitas "Sessões da Tarde" com chocolate quente e rios de lágrimas.Chorei hoje novamente ao ouvir a música e rever a Elza.Tô deprê, todas as minhas ausências estão maiores. A Elza foi minha leoa de estimação da infância e será por toda vida. Reconheço nela um pouco de todas as cadelas que tive e amei ao longo da vida. Vejo meu "gato malhado" também.Os mais críticos vão dizer que é um filme B recheado de clichês e preconceito. A história é linda e politicamente incorreta em muitos aspectos, é verdade. Mas quando eu tinha 8 anos não enxergava isso, só via o amor. De qualquer forma não digo isso como uma especilista em cinema, mas como alguém para quem este filme foi importante e ajudou a compor-me como a pessoa que sou. Mais tarde o exibi para os meu alunos cegos, fiquei comovida com a comoção deles. Sofreram com a separação da Elza dos humanos. Como hoje sofro a separação deles. Filme lindo, escolhi cena impagável com Elza ainda bebê com os irmãos.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Tarde adorável: bater pernas e desanuviar idéias

Enfim, conseguimos que o "indiano" nos aceitasse como clientes (lembram-se que na semana passada havíamos tentado, mas o adiantado da hora fez com que o dono do restaurante fizesse gestos com a mão indicando para nos irmos pois não havia mais comida?). Hoje provamos o sarapatel indiano. O Zé (de visual novo) já conhecia e fez uma propaganda bastante interesante sobre o picante da comida: "vais suar e pensar que estás a morrer!". Ou eu tenho inclinação para dragão lançador de chama ou exatamente hoje a esposa do indiano abrandou no picante. Mas, estava mesmo uma "dilícia"!
Depois aproveitamos o lindo dia azul e quente de Lisboa para um café ás margens do rio Tejo. Mais tarde fomos a Baixa Chiado bater pernas e desanuviar as idéias. O castelo de São Jorge "tão lindo"... Com a proximidade do carnaval, ouvimos em uma loja: "Passa negão, passa lourinha, quero ver você passar, por debaixo da cordinha". Resultado: fiquei com a ladainha na cabeça.
E antes de encerrarmos o passeio um doce com morangos em um café super interessante que busca convergências entre Portugal e o Japão. Voltaremos lá para provar o chá com pão de ló. Aqui a Mónica já havia se recuperado da aventura com as pimentas. Com vocês, a obra de arte! A moça que nos atendeu era brasileira e garantiu que era bonito e pouco calórico. Mas a gente sabe que se é bonito e se é gostoso: engorda!

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Shama shama e ensopado de enguias


Hoje vou jantar ensopado de enguia. Quando contei para minha mãe no Brasil ela disse "ai,Paula,´qualquer dia desses você vai ao bar do 'Descalços no Parque'". Comédia romântica de 1967, com Robert Redford e Jane Fonda (lindos e impagáveis!), esse filme fez-me dar muitas gargalhadas ao longo da vida. Na verdade, ainda me diverte, embora agora algumas das tensões do filme tenham outro impacto sobre mim. A cena a que minha mãe se referia é essa que encontrei no youtube e agora compartilho com vocês. Não acharia má idéia conhecer um lugar assim. Quem sabe na Tunísia? Shama shama! Depois conto das enguias...

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Mil vezes jumenta!

Pior que perder 6 parágrafos lindinhos da sua tese é não ter para quem contar a façanha... Por que contar uma eventual burrice para outra pessoa parece diminuir o mal estar? Por que o fato parece pior quando se permance em silêncio? Será que é porque somos nossos piores críticos e que é terrível quando não há o que fazer com a verdade..? Quando contamos para os outros maquiamos o episódio, colocamos guizos e coroas de flores....e no silêncio da gente-com-a-gente-mesmo a verdade continua de pijama de flanela...patética...

É possível ser belo apesar das manchas de senilidade?


Hoje li no blog do meu amigo Paulo Lessa um texto sobre um pintor chinês que retrata sua própria filha nua ao lado de feras(http://www.anonadas.blogspot.com/). O pior (na minha opinião, claro) foi a declaração da mãe da moça, que disse sentir uma "inveja boa" da filha, que pode aproveitar a beleza enquanto é jovem. Ela (a mãe) não pode mais, afinal é velha, e se é velha é feia. Casado a esse assunto, essa semana aborreci-me muitíssimo com um texto do Rubem Alves, escritor brasileiro de quem muito gosto. Em resumo resumidíssimo, ele acredita que ficar velho é péssimo, e que só se é atraente na juventude, a verdadeira "melhor idade". Lógico que escrevi pra ele, lógico que não irá me responder. Disse-lhe que pessoas como o George Clooney sempre gozarão da melhor idade (e por favor, não falo só da carcaça impecável do moço, mas do conjunto de idéias que articula!). O que me aborrece de fato é o embate proposto nesse tipo de discussão entre idade e beleza. Acredito sinceramente que os educadores poderiam colaborar na construção de uma nova relação com marcas cronológicas de qualquer natureza. Afinal, para que serve contar os dias (tente responder esta questão imaginando não haver prazos para o Imposto de Renda, cronogramas...)? Não se trata contudo de deixarmos de associar a idade ao que poderia ser eventulamente ruim, mas de aprendermos a apreciar as muitas formas da maturidade! É possível ser belo apesar das manchas de senilidade? Há um poema do Mário Quintana em que ele descreve as mãos do seu velho pai, e diz "As tuas mãos tem grossas veias como cordas azuis sobre um fundo de manchas já cor de terra- como são belas as tuas mãos -pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiramna nobre cólera dos justos...". está aí, a beleza que emerge enquanto vida! Mas "as pessoas na sala de jantar, tão preocupadas" em serem jovens e belas, e serem ricas, e seguirem á risca os scripts sociais" não enxergam... Os que me conhecem "de perto" devem estar dizendo que meu histórico e a proximidade "dos meus anos" podem estar turvando minha visão. Ok. Talvez. Só sei que cheguei em um ponto que quero estar perto daqueles que com "havainas nos pés, short e camiseta" mostram com o olhar toda beleza que encerram. E você, que tipo de pessoas quer por perto...?

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Plátanos....


A primeira foto é de novembro, a segunda foi tirada hoje no fim da tarde. Na mesma rua, na mesma altura, quase na mesma posição. As árvores são as mesmas, agora devidamente despidas para o rigor do frio. E eu, tenho certeza não sou a mesma que chegou e ainda não sou a que vai embora.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

O jeitinho brasileiro

O "jeitinho brasileiro" é bastante disseminado. Algns o associam ao "levar vantagem" e outros ao "ser criativo" para resolver situações críticas. Se devemos levar em conta os aspectos positivos ou negativos do tal "jeitinho brasileiro" não sei, mas meu fim de semana de trabalho duro terá pausas de grande prazer graças a um brasileiro que conheci hoje. Fui a locadore de filmes (video-clube aqui) fazer uma ficha e levei como comprovante de residência uma correspondência em meu nome do seguro saúde. Mas a funcionária do lugar disse que não valia, precisava ser uma conta de luz, água...Fiquei desolada. Eis que o brasileiro sugere que eu compre um vídeo, até ter a documentação em mãos, e eu vou até a caixa de filmes garimpar algum título. Enquanto isso, o brasileiro "herói" telefona para os donos da loja e negocia uma autorização para mim! Se a outra moça só dia "naõ pode" e "não, não" com aquela universal indiferença por meus sentimentos, o "menino" do Rio foi lá e deu "um jeito". Jeitinho brasileiro é fazer bom uso dos neurônios verde amarelos? Obrigada, Felipe!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Telegráficas

Ainda sobre Castelo Branco: depois de quase três meses vi dois pares de pernas desnudos que não os meus! Espanto: dois homens correndo para se exercitar, usavam short! Se minha relação com o corpo aqui mudou, descubri que a relação com o corpo alheio idem! Assombrei-me!

Dois indianos em uma loja de lembrancinhas de Lisboa ficam felizes quando percebem que sou estrangeira. Uma espécie de conluio as avessas, coisa que não aprovo. Pergunto de onde são, me dizem Bangladesh. Ele me perguntam se sou brasileira pura, e eu respondo no automático, não existem seres humanos puros, somos todos uma grande mistura. Eles não entenderam meu português, e eu saio de lá relexiva....

Na Praça do Comércio em Lisboa há um jovem na casa dos 30 que fala com seu cão. Eu falo com os meus cachorros, e falo também com cachorros que não conheço. Mas o caso aqui é outro, ele arrasta o cachorro pra todo lado como se mostrasse ao cachorro a cidade, e diz: "estás a ver, aqui eles bebem ginjinha".E o cachorro segue com seu dono com cara de envergonhado, como aquelas crinaças filhas de alcóolatra que buscam seus pais nos bares.....

Está pior meu hábito de falar sozinha.

Pavilhão Chinês


Fomos hoje ao Pavilhão Chinês, um bar cosntruído em um antigo pavilhão (que era de um chinês) e que hoje tem uma decoração "de tudo um pouco" com objetos da coleção do dono do lugar. È lindo. Coleção de capacetes, medalhas, trenzinhos, aviões que pendem do teto. A gente quase volta a ser criança. Achei esse vídeo gravado lá, do Lenine. Mas quem puder veja as outras fotos do blog.Fica na cidade alta.Depois ainda fomos ás Docas a mais um bar irlandês, eu provei o licor de Beirão. Doce e gelado. A temperatura voltou a descer.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Viagem maravilhosa!


Passei o fim de semana junto com a Mónica e sua adorável família em Castelo Branco, ao norte. É uma cidade encantadora, com pouco mais de 40 mil habitantes e apresenta o maior índice de qualidade de vida de Portugal. Se não bastasse a gracinha que a cidade é, a família da Mónica vive em uma quinta e preparou-me pratos típicos da região. Além disso, levaram-me para conhecer a cidade de Castelo Branco, a Serra da Estrela (que a Mónica apresenta no vídeo!) e uma aldeia em granito chamada Sortelha. Tenho assunto pra mais de metro. Diverti-me "imenso" e a beleza "afetou-me" como devemos ser "afetados" pela beleza, fez-me "florir" em pleno inverno. E pelo tom da Mónica e da Ana Paula no vídeo dá pra perceber como esse encontro teve humor! Os próximos posts serão sobre a viagem, os textos serão colocados aos poucos, mas só as imagens já têm seu valor...

Boa resposta, Mónica!


O vídeo está torto, desculpem, mas as iamgens são impagáveis!
O bacana mesmo é quando deixa de ser importante a pessoa ser brasileira ou portuguesa,quando a pessoa que somos vem antes de qualquer outro "rótulo"...mesmo que seja para levar uma bola de neve na cara!

"Ana Paula você quer comer neve?"


Minha irmã no Brasil disse que comer neve dá sorte. Como nunca ouvi falar dessa história, achei que a pestinha tinha inventado isso porque sabia que no meu entusiasmo de ver neve ia fazer qualquer idiotice. História inventada ou não, levei uma bola de neve enquanto dava uma gargalhada. Resultado: comi neve e meus companheiros de farra solidários, também provaram. Todos experimentamos neve. Euromilhões! Euromilhões!

Meninos em ação!

Boneco de neve em construção!

Serra da Estrela!














Sempre tive uma pontinha de inveja das pessoas que conheciam o mar depois de adultas e podiam viver essa experiência com olhos maduros e memória possuidora de mais palavras. Ver a neve pela primeira vez seria um evento de igual emoção! Primeiro sobrevivi a temperatura negativa. Com as roupas certas é moleza, chega a ser agradável. E então a neve, branca, branca, branca! E o inesperado: disposição e falta de censura para me comportar como se tivesse 5 anos de idade! Foi sob influência da simpática turma que me acompanhava, que me insultou com sequências e sequências de bolas de neve. Acredito que enquanto o corpo tiver saúde e vigor, deve sofrer o efeito dessa meninice gelada! Diverti-me muitoooooooooooo!

Mónica: especialista em bolas de neve!





Ela diz que tem formação em física e química, tem mestrado e estuda feito uma louca no doutorado...Mas na verdade, depois desse fim de semana descobri que a verdadeira especialidade da Mónica é a guerra com bolas de neve. O número de fotos em que apareço com a terceira dessa sequência, de costas e devidamente nevada, não é brincadeira! E reparem na expressão dela de quem sabe bem o que faz! A eficiência em pessoa!

Guerra!




Quinta












Uma quinta..Isso é um charme só! E a família da Mónica é muito linda. Mãe, tia e avó são uns "docinhos". Prepararam comidas típicas da região, um luxo! As fotos foram tiradas antes de irmos á Serra da Estrela. Sim..todos passaram frio por minha culpa. Pesoas muito hospitaleiras,gentis,educadas e muito boas de papo! Diverti-me imenso! Muito obrigada!


Jardim











Maranho